Não sou insensível às ondas. Até tenho bom ouvido para elas. Noto rápido quando muda o design das abas dos bonés e quando elas são usadas para proteger - do sol ? - a testa ou a nuca. Quando a moçada adota chapéus Fedora (...tipo Chicago nos anos 40...) meu radar dispara. Apesar de não ser da minha conta o que se passa dentro ou fora da cabeça dos outros.
Capto rapidamente o espírito da coisa quando, do nada, começo a ver um monte de gente tocando ukelele e escaleta ou fazendo de conta que precisa das últimas traquitanas high tech para saber, em tempo real, com um leve toque na touch screen, qual a umidade relativa do ar no sul do Gabão.
O que eu não sei fazer é surfar essas ondas. Respeitar o tempo delas, às vezes, se confunde com ignorar o meu. E isso ninguém deve fazer. Quem eu seria se não fosse o cara que gravou discos de roque progressivo no auge do grunge?
No meu mundinho, vejo canções rodopiando como fossem dados lançados por uma mão misteriosa. Eles nunca param de rolar. Como pedras que rolam, não criam limo. Que número vai dar? Ninguém saberá o fim desta história.
(*)
Quando conversei com o Rogério Flausino sobre a participação num show do Jota Quest em POA, ele disse que estavam preparando um novo disco e perguntou se eu tinha alguma letra para "parceriar". Infelizmente eu não tinha nada... nada muito pronto... só uma nuvem de meios caminhos, frases inacabadas, becos sem saída, sílabas esperançosas e confusos embriões. Ideias paradas esperando outras palavras.
Talvez catalisados pelo encontro, no caminho de volta pra casa pintaram uns versos. Confesso ter ficado um pouco constrangido ao mandar para o novo amigo mineiro uma letra poucas horas depois de afirmar que estava passando por um período de seca (digamos encubação, para não ficar tão dramático).
tudo está parado
esperando uma palavra
os carros e o metrô
tudo está parado
o vento que ventava
a janela que batia
tudo está parado
esperando uma palavra
o braço do pintor
o martelo do juiz
o disco voador
todos os satélites
a onda e o surfista
o protetor de tela
tudo está parado
esperando uma palavra
a pancadaria
no filme de ação
o solo da guitarra
antes do refrão
a noite que caia
o ciclo das marés
a fumaça que subia
pela chaminé
tudo está parado
esperando uma palavra
tudo está parado
esperando uma palavra
fiz uma pergunta
no escuro deste quarto
e agora o mundo inteiro
espera uma palavra
diz aí
o que eu quero ouvir
diz aí
o que eu preciso ouvir
(*)
Muito afim que sou de misturar elementos da música regional gaúcha no meu som, mandei pro Duca músicas do Luiz Carlos Borges e do Gaúcho da Fronteira (todas em compasso ternário, o bom e velho 3/4) e pedi que ele compusesse algo desse tipo para eu colocar letra. Pintou Recarga!:
recarregar - reiniciar
reinventar - reabastecer
arriou a bateria
e o dia mal começou
virado num bagaço
o cansaço me pegou
combustível na reserva
troco a erva do chimarrão
não tá morto quem peleia
game over ainda não
alimento pra usina
em cada esquina:
imaginação
o dia só tá começando
começando a reação
recarregar - reiniciar
reinventar - reabastecer
trânsito parado
um trem sem humildade
cada um no seu vagão
queimando o carvão da vaidade
super slow motion
low battery adeus wi fi
essa fila tá parada
a outra fila vai que vai
a gente vai peleando
não dá pra se entregar
o dia só tá começando
começando a melhorar
recarregar - reiniciar
reinventar - reabastecer
(*)
Por coincidência, toquei - com o Trio Grande do Sul - esta música no Galpão Crioulo (tradicional programa do tradicionalismo gaudério - com o perdão da tradicionalíssima redundância) no mesmo dia em que o Jota Quest gravava o clip de Tudo Está Parado em Sampa. Durante os preparativos e a gravação com o TGS, eu trocava DMs com Flausino sobre palavras a serem "desenhadas no ar" pelas personagens do clipe. Foi só então que me dei conta de que as músicas eram irmãs. Duas manifestaçãos do mesmo estado de espírito: a constatação da paralisisa e a necessidade do movimento.
Bacana reconhecer que os dados lançados pela mão generosa seguiram rolando. Encontraram seus caminhos e encontraram-se no caminho; apesar da distância entre Porto Alegre e São Paulo. Sons urbanos e pampeanos, noturnos e solares, do bandolim e do pro tools, da pista lotada e do solitário fone. Lado a lado. Ao menos na minha cabeça. Este é meu mundinho: o mundão destes encontros.
(*)
bah 1: junto com a letra, mandei pro Flausino um video beeeeeeeeem caseiro; só pra ele ter noção da divisão que eu imaginava (às vezes, numa composição, pinta a escolha de Sofia: privilegiar a divisão da frase musical ou do texto?).
Depois de mandar o video, me dei conta de que era uma péssima ideia. Eu deveria ter mandado a letra falada. Não queria que a melodia influenciasse ele. Mas obviamente ela ficaria como um fantasma atrapalhando suas ideias. Por sorte, problemas tecnológicos (formatos, plataformas, vivo, oi, claro, tim...) impediram que o vídeo chegasse em Minas antes das ideias para melodia, harmonia e arranjo. Na real, Rogério só vai ver o vídeo agora:
http://www.youtube.com/watch?v=-KY-I2vrQu8&feature=youtu.be
Depois de mandar o video, me dei conta de que era uma péssima ideia. Eu deveria ter mandado a letra falada. Não queria que a melodia influenciasse ele. Mas obviamente ela ficaria como um fantasma atrapalhando suas ideias. Por sorte, problemas tecnológicos (formatos, plataformas, vivo, oi, claro, tim...) impediram que o vídeo chegasse em Minas antes das ideias para melodia, harmonia e arranjo. Na real, Rogério só vai ver o vídeo agora:
http://www.youtube.com/watch?v=-KY-I2vrQu8&feature=youtu.be
Aqui tá a versão de estúdio do Jota Quest:
http://www.youtube.com/watch?v=a-ZIso9jV4M&feature=youtube_gdata_player
http://www.youtube.com/watch?v=a-ZIso9jV4M&feature=youtube_gdata_player
Aqui, a partir de 13:24, o Trio Grande do Sul tocando Recarga!:
http://redeglobo.globo.com/rs/rbstvrs/galpaocrioulo/videos/t/edicoes/v/trio-grande-do-sul-reune-variantes-musicais-no-galpao-crioulo/2128386/
http://redeglobo.globo.com/rs/rbstvrs/galpaocrioulo/videos/t/edicoes/v/trio-grande-do-sul-reune-variantes-musicais-no-galpao-crioulo/2128386/
bah 2: quase ia me esquecendo: hoje, 22h, twitcam do GLM. Queria escrever algo sobre o disco, mas... o que não foi escrito nos meus livros, em jornais e revistas, nos diários de fãs, em linhas tortas, nas portas da percepção, em paredes de banheiro, nas folhas que o outono leva ao chão, em livros de stória, sem muita pressa, com muita precisão, sem ser impresso, à mão, à luz de velas, quase na escuridão, longe da multidão?
Só me resta mandar um abraço aos queridoidosdeatar Maltz e Licks. E avisar que minhas twitcams partem do repertório mas não querem reproduzir o disco. E te convidar a pintar lá!
bah 11: 11 anos depois do ataque de 11 de setembro eu queria dizer algo, mas... o quê?
Só me resta mandar um abraço aos queridoidosdeatar Maltz e Licks. E avisar que minhas twitcams partem do repertório mas não querem reproduzir o disco. E te convidar a pintar lá!
bah 11: 11 anos depois do ataque de 11 de setembro eu queria dizer algo, mas... o quê?
abraços
11set2012