Caminhando pelas ruas da minha cidade passo rente a muros cobertos de cartazes parcialmente descolados de shows que já rolaram. Um cartaz é sempre uma promessa. Como terão sido esses shows? Em que muros, o tempo, com seu mover constante, colará e descolará cartazes do Insular ao Vivo?
Escrevo para agradecer o carinho das mensagens que pintaram semana passada, quando foi ao ar a capa do projeto. Aproveito para passar informações pra quem tá chegando agora e responder algumas perguntas que me fazem por aí:
Insular ao Vivo é um CD/DVD que traz a gravação de um show em Belo Horizonte ao lado de cinco canções gravadas na serra gaúcha com convidados que fazem parte dos universos inSULar e Pouca Vogal. É um projeto independente, em parceria com a Estreia Produções, sem uso de leis de incentivo, a ser distribuído pela Coqueiro Verde Records e veiculado (a partir do ano que vem) pelo Canal Brasil. Prometeram-me que dia 15 de novembro terei meu exemplar em mãos. Deve chegar às lojas alguns dias depois (emSEUlar, se você quiser).
Participarei de alguns eventos de lançamento nas Livrarias Saraiva (informo onde e quando em breve). Nossos amigos da Stereophonica continuarão oferecendo a opção de receber autografado (algo que, depois do Pra Ser Sincero, Mapas do Acaso, Nas Entrelinhas do Horizonte, Agenda 2013, Seis Segundos de Atenção e do CD inSULar, já virou uma tradição para os mais chegados).
Mais do que simplesmente registrar versões ao vivo do disco mais recente, o plano sempre foi dar uma geral na minha produção musical de 30 anos sob a luz do momento que vivo. Uma frase assim faz parecer que tudo esta sempre no controle de quem cria, né? Ilusão. O acaso também joga suas cartas. E deixa tudo mais... ahn... vivo.
Um exemplo: desde o início pensei em gravar uma das minhas peças mais longas, mas tinha dúvida sobre qual. Nada Fácil / Olho do Furacão e Conquista do Espelho / Conquista do Espaço estavam, ao lado de outras, na lista de possibilidades que foi se definindo até restarem, no dia da gravação, A Violência Travestida Faz Seu Trottoir e Exército de um Homem Só I e II.
A ideia era gravar as duas e decidir depois qual iria para os discos. Na passagem de som em BH, do nada, pintou um ruído no baixo Warwick Fortress (o verde, de quatro cordas). Descobrimos que era interferência de um equipamento novo da luz projetada para o show. A solução foi usar o Rickenbacker que estava de stand-by. Depois de meses refinando o som do Warwick para a introdução e algumas partes especiais de A Violência Travestida Faz Seu Trottoir, não consegui ficar satisfeito com o som do velho Rick nesta canção (originalmente gravada com um Steinberger).
Eu poderia tocar a música com o Warwick Corvette (de seis cordas), ou com a Steinberger de dois braços. Ambos me deixariam mais satisfeito com o som. Mas, caramba, se eu tivesse um baixo de seis ou uma doubleneck em 1990, quando escrevi a canção, não teria bolado o arpeggio e os acordes (pouco usados em baixo) do arranjo original. O legal mesmo era fazer com o baixo de quatro cordas.
Enfim... coisas insignificantes para 99 entre 100 pessoas, né? Mas não se trata de um disco de 99 pessoas, né? Optei por Exército de um Homem Só I e II que fecha bem o show e traz a doubleneck como um emblema da minha paixão pelo formato trio e de minhas tentativas de ampliar seus limites. E, por acaso, este momento acabou virando capa.
A quem acha que eu deveria ter gravado mais hits, gostaria de dizer que nunca penso nas minhas músicas nesses termos. Seria como chamar um filho de "aquele de óculos", colocar uma eventualidade acima da essência. Não me orgulho nem me envergonho do sucesso popular. De fato, deixei de fora uma lista de hits que poderia completar um álbum inteiro. Mas gravei vários e, nos shows, tenho tocado outros tantos. Acho que ficou de bom tamanho.
A quem preferiria que eu não gravasse nenhum hit, gostaria de dizer que nunca penso nas minhas músicas nesses termos. Seria como chamar uma filha de "aquela de blusa azul", colocar uma eventualidade acima da essência. Não me orgulho nem me envergonho do sucesso popular. Nesses tempos em que artistas com muito mais sucessos do que eu recheiam seus shows com covers, tomo este tipo de pitaco como um elogio de quem curte meu trabalho autoral e quer sempre mais novas canções.
( É sempre bom contextualizar a palavra hit, né? Não deixá-la sair da proporção do artista a que se refere. Happy do Pharell Williams é um hit e o Koln Concert do Keith Jarret também é. Cada um na sua. )
As raras manifestações um pouco mais tacanhas de ambos os lados coloco na conta da informalidade excessiva e sem lastro na vida real que toma conta da comunicação virtual. Imagino que venham de pessoas que, ao pedir uma foto ou um autógrafo, são muito cordiais e queridas.
As raras manifestações um pouco mais tacanhas de ambos os lados coloco na conta da informalidade excessiva e sem lastro na vida real que toma conta da comunicação virtual. Imagino que venham de pessoas que, ao pedir uma foto ou um autógrafo, são muito cordiais e queridas.
Assim como o acaso, a dúvida também senta na mesa desse jogo. E o deixa mais... ahn... vivo. Fiquei em dúvida entre gravar ou não Esportes Radicais. Queria bastante, mas não cheguei ao arranjo certo nem para o trio em BH nem para alguma formação alternativa na serra. Fica para uma próxima.
Também fiquei em dúvida se deveria incluir ou não Pra ser Sincero. Mas esta foi uma dúvida muito breve, passageira, que não resistiu ao belíssimo coro da galera em BH, à luz sensacional (que só vi na edição), ao clima de falso fim de show que ela traz em cada noite da tour, antes que a gente toque Parabólica, Dom Quixote, Exército e os bis... Como se eu dissesse, sorrindo, para quem já deu minha carreira por encerrada várias vezes, o que Galileu disse para quem o obrigou a renegar sua convicção de que é a Terra que se move em torno do Sol : Eppur si muove (no entanto ela se move).
bah 01: Caminhava pelas ruas da minha cidade passando rente a muros cobertos de cartazes parcialmente descolados de uma campanha política passada. Cartazes são sempre promessas... serão cumpridas essas?
Enquanto sigo, muros seguem passando por minha visão periférica. É assim que os surfistas ávidos por adrenalina que vejo em programas da TV a cabo devem enxergar as paredes dos tubos formados pelas ondas.
Chuva de Containers rola na rádio da mente como um mantra enquanto tento ficar imune aos histéricos xiliques-puxões-de-cabelo-arranhões-faniquitos verbais que rolam por aí (petralha-coxinha-coxalha-petrinha-gugú-dadá...). Então...
... os três chegaram armados em duas motos numa rua deserta, tacaram o terror padrão e levaram o celular deste pedestre convicto. Não pareciam famintos nem chapados, para citar dois estereótipos de assaltantes que esquerda e direita teimam em reforçar. Não cheguei a ver seus rostos, mas, na fala (e na humanidade), pareciam-se comigo. Espero que um dia pensem como eu: que um celular não vale a violência. E Humano Demais começou a tocar narád'inconsciente.
No mais, é vida que segue aqui embaixo. Cada um contribuindo (para o bem ou para o mal, consciente ou inconscientemente) de várias formas para as coisas serem como são ou como poderiam ser. Insular ao Vivoé minha vigésima primeira contribuição fonográfica.
bah 02: fiquei sabendo que dia 11jan2015, exatos 30 anos após meu primeiro show (EngHaw na Escola de Arquitetura), a tour Insular Ao Vivo vai passar por Sampa. É cedo eu sei, mas já convido toda a tribo para comemorarmos juntos ouvindo Sampa no walkmaaa-aaaa-aaan.
bah do bah 02: ops, a produção acaba de me informar que o show em Sampa será dia 10. De qualquer forma, estaremos no palco à meia-noite ;-)
Enquanto sigo, muros seguem passando por minha visão periférica. É assim que os surfistas ávidos por adrenalina que vejo em programas da TV a cabo devem enxergar as paredes dos tubos formados pelas ondas.
Chuva de Containers rola na rádio da mente como um mantra enquanto tento ficar imune aos histéricos xiliques-puxões-de-cabelo-arranhões-faniquitos verbais que rolam por aí (petralha-coxinha-coxalha-petrinha-gugú-dadá...). Então...
... os três chegaram armados em duas motos numa rua deserta, tacaram o terror padrão e levaram o celular deste pedestre convicto. Não pareciam famintos nem chapados, para citar dois estereótipos de assaltantes que esquerda e direita teimam em reforçar. Não cheguei a ver seus rostos, mas, na fala (e na humanidade), pareciam-se comigo. Espero que um dia pensem como eu: que um celular não vale a violência. E Humano Demais começou a tocar narád'inconsciente.
No mais, é vida que segue aqui embaixo. Cada um contribuindo (para o bem ou para o mal, consciente ou inconscientemente) de várias formas para as coisas serem como são ou como poderiam ser. Insular ao Vivoé minha vigésima primeira contribuição fonográfica.
bah 02: fiquei sabendo que dia 11jan2015, exatos 30 anos após meu primeiro show (EngHaw na Escola de Arquitetura), a tour Insular Ao Vivo vai passar por Sampa. É cedo eu sei, mas já convido toda a tribo para comemorarmos juntos ouvindo Sampa no walkmaaa-aaaa-aaan.
bah do bah 02: ops, a produção acaba de me informar que o show em Sampa será dia 10. De qualquer forma, estaremos no palco à meia-noite ;-)
abraços
28out2014