Toda gravação envolve períodos de ociosidade, um monte de minutos no estúdio esperando ajustes no equipamento. Terrreno fértil para o surgimento de excelentes piadistas, imitadores, e contadores de causo entre músicos técnicos e produtores.
Gláucio Ayala é um exímio imitador. Alexandre Master faz comentários hilários (não é a toa que Hilário é seu segundo nome). Rafa Bisogno, apesar da pequena amostragem, parece ser do ramo, na vertente gaudéria. Cássio Araújo, meu roadie nos anos Steinberger, detonava meus ídolos - de Neil Young a Roger Waters - com tiradas ácidas e engraçadas. Adal e Luciano formam uma dupla tipo Beavis & Butt-Head, Cheech & Chong.
Carlos Maltz, com seu jeito rústico/sofisticado, é engraçadíssimo. Licks tinha um humor contido mas eficiente. O dia em que mais ri na minha vida foi quando, em meio às gravações do clipe de Exército de Um Homem Só, começamos a imitar manchetes de jornais portoalegrenses, precedendo em mais de 20 anos as sátiras d'O Bairrista. A gravação de um clipe costuma ser mais demorada e incomparavelmente mais chata do que a gravação de uma música, mas neste dia ri tanto que me doíam as bochechas na hora de dublar.
O melhor de todos estes comediantes informais que conheci foi Maluly, produtor do OUÇA O QUE EU DIGO: NÃO OUÇA NINGUÉM. Ele chega ao requinte de nos fazer rir mesmo com piadas que já conhecemos. Uma prova irritante de quão bem ele sabe contá-las é que, depois de rir muito delas, eu conto para outras pessoas e nunca surtem o mesmo efeito.
Carlos Maltz, com seu jeito rústico/sofisticado, é engraçadíssimo. Licks tinha um humor contido mas eficiente. O dia em que mais ri na minha vida foi quando, em meio às gravações do clipe de Exército de Um Homem Só, começamos a imitar manchetes de jornais portoalegrenses, precedendo em mais de 20 anos as sátiras d'O Bairrista. A gravação de um clipe costuma ser mais demorada e incomparavelmente mais chata do que a gravação de uma música, mas neste dia ri tanto que me doíam as bochechas na hora de dublar.
O melhor de todos estes comediantes informais que conheci foi Maluly, produtor do OUÇA O QUE EU DIGO: NÃO OUÇA NINGUÉM. Ele chega ao requinte de nos fazer rir mesmo com piadas que já conhecemos. Uma prova irritante de quão bem ele sabe contá-las é que, depois de rir muito delas, eu conto para outras pessoas e nunca surtem o mesmo efeito.
Se não consigo fazer as anedotas do Maluly funcionarem oralmente, seria maior o fracasso se eu tentasse escrever aqui uma delas. Mesmo assim, vou contar uma. Não pelo riso, que provavelmente não provocarei; mais pela sacada que ela traz embutida. Já não era nova em 88 quando gravamos o OUÇA O QUE EU DIGO: NÃO OUÇA NINGUÉM (tempos anteriores ao telefone celular), mas aí vai:
Um cara está dirigindo numa estrada deserta quando fura o pneu do carro. Abre o porta-malas e descobre que o estepe também está furado. Não passa nenhum carro na meia hora em que ele já está ali. Resolve caminhar até uma luz, lá longe, que ele presume ser uma casa, na esperança de que haja um telefone lá. Praguejando contra a má sorte, ele se põe a andar.
Enquanto caminha, pinta quadros sombrios na imaginação: e se não for uma casa? E se não tiver ninguém lá? E se o cara não tiver telefone? E se o cara tiver telefone mas não me deixar usar? Putz, tô ferrado!
Segue andando por uma hora, com a cabeça sempre naquela mesma vibe, sempre esperando o pior. Chegando à casa, ao passar pelo portão, ainda pensa: que saco, garanto que o cara vai reclamar que estou importunando! Que merda, se o cara não me deixar usar o telefone é um babaca!
Toca a campainha ainda ruminando: Que humilhação ter que pedir favor a um babaca!
Uma senhora idosa abre a porta com um sorriso bondoso e receptivo e... antes mesmo de dizer oi, ele dispara: pega este telefone e enfia no @#, babaca !!!
É uma bela definição de "profecia autorrealizável”, né? Todas são um pouco assim: constroem o futuro que fingem prever.
abraço